Papa Francisco expulsa dez membros do Sodalício de Vida Cristã por abusos de poder e sexualidade

Em uma decisão histórica e sem precedentes, o papa Francisco expulsou dez membros do Sodalício de Vida Cristã, um movimento católico peruano, após uma extensa investigação que revelou graves abusos de poder, espiritualidade e sexualidade dentro do grupo. A medida foi anunciada nesta quarta-feira (25) pelo Vaticano e é considerada um marco no combate aos abusos dentro da Igreja Católica. Entre os expulsos estão figuras de destaque, como um bispo, vários padres e membros não religiosos, além do próprio fundador do movimento, Luis Figari.

Fundado por Figari em 1971, o Sodalício de Vida Cristã foi inicialmente concebido como um grupo que recrutava jovens para serem “soldados de Deus”. Rapidamente, a organização expandiu sua influência, especialmente na América do Sul e nos Estados Unidos, chegando a contar com cerca de 20 mil membros. No entanto, o movimento, que parecia inicialmente dedicado à fé e ao serviço, foi corroído por abusos cometidos por suas lideranças.

Luis Figari, considerado o principal responsável pelas atrocidades cometidas, foi acusado de abusar sexualmente de recrutas e de exercer controle espiritual e emocional sobre eles. As primeiras denúncias contra ele surgiram no início dos anos 2000, mas só ganharam visibilidade em 2011, quando algumas vítimas se manifestaram publicamente e procuraram a Arquidiocese de Lima. No entanto, a Igreja Católica não tomou medidas concretas na época, e foi somente em 2015, com a publicação do livro “Meio Monges, Meio Soldados”, que as acusações passaram a ser amplamente conhecidas. A obra, escrita por Pedro Salinas, uma das vítimas, e pela jornalista Paola Ugaz, expôs a profundidade dos abusos cometidos por Figari e outros membros do Sodalício.

A investigação conduzida pelo Vaticano revelou um cenário de abuso sistêmico dentro do movimento. O relatório destacou que, além dos abusos sexuais, Figari também cometia violência física com sadismo, manipulava espiritualmente seus seguidores e cometia irregularidades financeiras. Em um dos trechos mais perturbadores do relatório, Figari foi descrito como “narcisista, paranoico, humilhador, vulgar, vingativo, manipulador, racista, sexista, elitista e obcecado por questões sexuais”. Ele obrigava os recrutas a se submeterem a toques forçados e a situações humilhantes, além de se deleitar com o sofrimento e o medo de suas vítimas.

Apesar das evidências contundentes contra Figari, o Vaticano, em 2017, optou por não expulsá-lo da Igreja, limitando-se a afastá-lo da comunidade e proibindo-o de manter contato com os membros do Sodalício. Na época, essa decisão foi atribuída a uma lei canônica que não previa a expulsão de fundadores de comunidades religiosas que não fossem sacerdotes. Figari viveu em Roma desde então, afastado da vida pública, até que foi finalmente expulso da organização no mês passado, quando foi considerado culpado de sodomizar os recrutas – uma prática que ele, segundo denúncias, chamava de “purificação”.

A expulsão mais recente de outros membros, incluindo o arcebispo José Antonio Eguren, também foi uma resposta às crescentes pressões sobre a Igreja para lidar de maneira mais rígida com casos de abuso. Eguren, que já havia renunciado ao cargo de bispo em abril, foi acusado de tentar silenciar jornalistas e vítimas ao processar Salinas e Ugaz por suas reportagens.

O comunicado oficial do Vaticano reafirmou o compromisso da Igreja em combater os abusos e pediu perdão às vítimas. Os bispos peruanos, segundo a nota, estão unidos ao papa Francisco no pedido de justiça e reparação para aqueles que sofreram nas mãos dos líderes do Sodalício de Vida Cristã.

A decisão do papa Francisco de expulsar os dez membros é vista como uma tentativa de mostrar que a Igreja está disposta a agir de maneira mais firme contra aqueles que violam a confiança dos fiéis. Movimentos como o Sodalício, que deveriam ser um espaço de fé e acolhimento, tornaram-se, para muitos, um lugar de dor e abuso. Agora, com as expulsões, a esperança é que essas feridas comecem a ser curadas e que a justiça seja feita para todas as vítimas.

Com informações de O Estado CE

Zeudir Queiroz