- Indo e voltando: A batalha cotidiana de quem mora em Caucaia e estuda em outro município - 20 de outubro de 2017
O sol mal havia se posto e o despertador já chamava atenção para as atividades que precisavam ser iniciadas. Seis da manhã, esse é mais ou menos o horário que o rapaz se levantava para cumprir o que se propunha diariamente a realizar. A rotina parece lhe obrigar ao mesmo ritual diário: escovar os dentes, tomar banho, comer, se preparar para pegar o carro e pôr o pé na estrada. Henrique Cícero é estudante de Química e diariamente precisa se deslocar de Caucaia ao Instituto Federal do Ceará – IFCE de Maracanaú, onde ocorrem suas aulas. Mas o que nos cabe perguntar aqui é quais os motivos que levam o rapaz a realizar isso e o porquê, afinal, de estarmos contando essa estória?
Larissa Nóbrega é estudante de Letras em uma das melhores universidades do Brasil, a Universidade Federal do Ceará – UFC, e realiza um trajeto, se não similar, tão desgastante quanto o de Henrique. Acordar cedo, preparar-se para não perder o horário da aula, pegar o ônibus da empresa Vitória (muitas vezes lotado), chegar na aula, almoçar, assistir mais aula, jantar (quando o tempo permite), pegar novamente o ônibus da empresa Vitória (mais uma vez lotado), chegar em casa, estudar algum conteúdo visto nas aulas passadas e finalmente dormir. Essa é a rotina de Larissa, quando não mesclada com a missão de organizar, duas vezes por semana, um Laboratório de Redação em uma das escolas de seu bairro.
Mas o que, enfim, estes dois personagens têm em comum? Ambos moram no município de Caucaia, localizado cerca de 14 km de Fortaleza e 22 km de Maracanaú, e convivem com os desafios diários de transitar entre os diferentes municípios, assim como tantos outros estudantes e trabalhadores. Larissa, de 19 anos e Henrique com 24 acabam dividindo suas energias entre o lugar onde moram e o lugar onde estudam. Isso, talvez, não faça dos dois jovens exemplos muito distantes da grande maioria dos moradores de Caucaia, mas as atividades que realizam enquanto não estão na faculdade são um caminho para entendermos a necessidade dos detalhes dessas histórias.
Henrique também é professor de Matemática, Química e Física do Colégio Irmãs Paula, localizada no bairro Parque Potira – Jurema, e Larissa participa, na EEFM Presidente José Sarney, no bairro Araturi, de um projeto da Secretaria da Educação – SEDUC que viabiliza oficinas de redação com o intuito de melhor preparar estudantes do Ensino Médio para o vestibular. Ambas estas atividades acontecem em bairros localizados no município de Caucaia. Dessa forma, vemos não somente a ida de Henrique e Larissa para buscar preparação em outras localidades, mas, consequentemente, a volta dos mesmos ao seu município de origem, agora com uma outra perspectiva: repassar o conhecimento.
A importância de percebermos a volta de seus moradores, mesmo cercados de tantas dificuldades enfrentadas diariamente, muitas delas ocasionadas pela falta de uma estrutura básica de transporte ou de investimentos dentro do próprio município (coisa que vem mudando nos últimos anos) é a importância dada aos próprios sujeitos que compõem essas histórias. Henrique e Larissa podem representar milhares de caucaienses que passam pelos mesmos problemas de buscar melhores condições de trabalho ou estudo fora de Caucaia, mas que, assim como tantos, optam por voltar ao seu povo e contribuir com a realidade de suas comunidades.