Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto chega aos 200 anos

O grupo, que está na sua quarta geração, comemora os aniversários com uma terreirada no Crato FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
O grupo, que está na sua quarta geração, comemora os aniversários com uma terreirada no Crato
FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
Crato. A terreirada começa cedo. A reverência é aos 200 anos da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Grupos de tradição popular e seus mestres participaram da festa do bicentenário da banda, que foi anunciada como patrimônio da cultura imaterial do Crato, reconhecida por decreto, ontem. Solenidade com a presença do secretário de Cultura do Estado, Guilherme Sampaio, da secretária e Cultura do Município, Dane de Jade, e do grupo, marcou a festa, que contou com o descerramento de uma placa alusiva ao aniversário, além do lançamento do livro “Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto: Memórias e Afetos”, que reúne artigos de pessoas que têm, de alguma forma, uma relação com o grupo, e um acervo fotográfico para fazer um registro da data. A banda, que se tornou um ícone da cultura e da tradição no sul do Estado, traz a ancestralidade dos índios kariris. As comemorações aconteceram na casa do integrante mais antigo da banda, o mestre Raimundo Aniceto, com 82 anos. O aniversário do grupo, que chega à sua quarta geração, acontece todos os anos com uma terreirada. Neste ano, mais um dos Aniceto passa a fazer parte da banda oficialmente, o Cícero Aniceto, com a morre do líder Antônio Aniceto, o seu pai, o primeiro pifeiro do grupo, em janeiro deste ano. O grupo já chegou a gravar quatro discos e, em agosto deste ano, fará apresentações na Turquia. Eles serão acompanhados pela secretária de Cultura do Crato, que também estará com o Reisado do Mestre Aldenir, em junho, no Canadá. A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, conforme o memorialista do Crato, Huberto Cabral, é uma das mais divulgadas do Cariri no exterior, já tendo percorrido Portugal, Espanha, França e, no segundo semestre, estará na Turquia, para participar de um festival na região da Capadócia, além de já ter passado por diversos estados brasileiros. Segundo a secretária de Cultura do Crato, Dane de Jade, a banda se traduz no que há de mais autêntico na cultura, e não se propõe a ser um produto exótico para turista ver. “É a ancestralidade presente nesses descentes dos índios kariris, primeiros habitantes dessa região. Eles vieram trazer o seu legado de saberes e fazeres para nós, de pai para filho. Importante a preservação e salvaguarda”, afirma. Herança familiar O mestre Raimundo destaca a grande alegria de receber a herança familiar e dar continuidade à bandinha, que começou com o seu avô e seguiu com o pai, que era índio kariri. Para ele, quem nasce para a cultura já está feito. “A banda veio para alegar o Brasil. É a cultura legítima, ao vivo”, disse Raimundo Aniceto. Para um dos integrantes mais jovens da banda, Hugo Aniceto, essa é uma data de alegria por esse trabalho vir resistindo por tantos anos, com a presença dos membros da família. Ele afirma que há 15 anos passou a integrar o grupo. Mas, antes disso, foi aprendendo a tocar todos os instrumentos. Lembrava dos passos das danças ensaiados desde a infância. “É um aprendizado natural que a gente vai praticando até chegar a fazer parte do grupo”, frisa. O momento de sair pelo Cariri e o Brasil realizando as apresentações e a recepção do público, para Hugo, é o coroamento desse reconhecimento. Comemoração No quintal da casa do mestre Raimundo, todos se reuniam para os festejos com o típico forró pé-de-serra e era servido o tradicional mungunzá. Os mestres iam aos poucos chegando com os seus grupos para saudar a banda. Um deles, o mestre Aldenir, disse que era uma grande alegria poder estar presente, já que muito cedo começou a se apresentar, lembrando dos encontros com a banda cabaçal. Aos 82 anos, ele contou que, em junho, o seu reisado fará 60 anos. Na Rua Manuel Macedo, em frente ao número 301, no bairro Seminário, ainda passaram os mestres Cirilo, do maneiro pau; mestra Zulene Galdino, com grupo de maneiro pau mirim; mestra Mazé de Luna, com o reisado Dedé de Luna e seus respectivos integrantes para apresentações que adentraram a noite nas comemorações. Reserva cultural O secretário de Cultura do Estado, Guilherme Sampaio, ressaltou a importância da banda para Ceará. Ele reconhece o Cariri como uma reserva cultural. O gestor explicou que a sua presença no Cariri tem a ver com o compromisso do Governo do Estado com a relevância da tradição popular, além homenagear a Banda dos Irmãos Aniceto. Guilherme Sampaio ainda destacou a política de valorização dos mestres da cultura do Estado como os verdadeiros guardiães da tradição. Para isso, ele disse que será fortalecido o projeto de mestres da cultura, resgatando o início da formulação do projeto, possibilitando o convívio e reconhecimento dos mestres. Assim, deverão receber o título de notório saber vindo de universidades, como mestres, e levarem oficinas, cursos, sendo equiparados com os professores das instituições. Enquete Qual a importância do grupo? “Para mim, esses anos representam uma luta. É uma grande responsabilidade poder tocar nessa banda, vendo e aprendendo cada vez mais para levar adiante esse legado” Adriano Aniceto Integrante da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto “Esse grupo me dá muitas alegrias de fazer parte dele e estarei aqui junto para preservar essa tradição de família. Os Irmãos Aniceto onde chegam levam a alegria” Hugo Aniceto Integrante da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto Mais informações Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto Rua Manoel Macedo, 301 Bairro Seminário, Crato – CE Telefone: (88) 3523.2365 Elizângela Santos Colaboradora Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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